Na última ceia onde Jesus partiu o pão com os seus discípulos momentos antes de sua crucificação ele afirmou que naquela noite todos eles iam fugir e o abandonar conforme o cumprimento das escrituras.
Porém Pedro disse: Eu nunca abandonarei o Senhor, mesmo que todos o abandonem.
Então Jesus respondeu: nesta mesma noite, antes que o galo cante, você me negará três vezes.
Jesus foi traído, preso e os discípulos se dispersaram. Pedro o seguiu até a casa do sumo sacerdote mas foi reconhecido por algumas pessoas e negou por três vezes que conhecia Jesus, até que o galo cantou. Então ele se lembrou das palavras do Senhor e chorou amargamente.
Essa história já conhecemos. Depois que Jesus foi crucificado e ressuscitou dos mortos durante certo tempo ele apareceu para vários discípulos.
Em uma dessas ocasiões Jesus comeu peixe com eles na beira do lago.
E assim segue a sequência no evangelho de João:
“Depois de terem comido, perguntou Jesus a Simão Pedro: Simão, filho de João, amas-me mais do que estes outros? Ele respondeu: Sim, Senhor, tu sabes que te amo. Ele lhe disse: Apascenta os meus cordeiros.”
“Tornou a perguntar-lhe pela segunda vez: Simão, filho de João, tu me amas? Ele lhe respondeu: Sim, Senhor, tu sabes que te amo. Disse-lhe Jesus: Pastoreia as minhas ovelhas.”
“Pela terceira vez Jesus lhe perguntou: Simão, filho de João, tu me amas? Pedro entristeceu-se por ele lhe ter dito, pela terceira vez: Tu me amas? E respondeu-lhe: Senhor, tu sabes todas as coisas, tu sabes que eu te amo. Jesus lhe disse: Apascenta as minhas ovelhas.”
Jesus usou essa situação para cura-lo do seu trauma por ter o negado três vezes. Usando como recurso psicológico essa repetição Jesus estava restaurando as suas emoções entristecidas e a sua confiança abalada por causa daquele evento.
Ao declarar o seu amor por três vezes Pedro recebeu uma resposta que nos indica exatamente qual é e qual deve ser o significado e a expressão do nosso amor por Jesus.
Jesus disse: Apascenta as minhas ovelhas.
Ou seja, Pedro, se tu me amas, então apascenta as minhas ovelhas ou cuide das minhas ovelhas. Proteja, ensine, direcione, guie, ajude as minhas ovelhas.
Isso revela que a autenticidade do nosso amor a Deus está ligado à condição de que este amor seja direcionado aos outros seres humanos. Não existe amor e devoção a Deus que não tenha a ver com a prática de um amor que seja voltado ao próximo.
Deus escolheu ser amado no próximo, conforme está escrito também em Matheus 25 sobre a volta do Filho do homem e o grande julgamento:
“Pois eu tive fome, e vocês me deram de comer; tive sede, e vocês me deram de beber; fui estrangeiro, e vocês me acolheram; necessitei de roupas, e vocês me vestiram; estive enfermo, e vocês cuidaram de mim; estive preso, e vocês me visitaram.”
“Então os justos lhe responderão: ‘Senhor, quando te vimos com fome e te demos de comer, ou com sede e te demos de beber?’ ”
“O Rei responderá: ‘Em verdade vos digo: O que vocês fizeram a algum dos meus menores irmãos, a mim o fizeram’.”
O critério de Cristo usado naquele dia para separar os justos não será a frequência aos cultos, a participação em alguma religião ou a representatividade em cargos eclesiásticos. Mas sim a disposição em vida para viver a bondade, o amor e a justiça diante de outros seres humanos, sem acepção.
Ou seja, você quer amar a Deus? Então você precisa aprender a amar as pessoas.
“Se alguém diz: Eu amo a Deus, e odeia a seu irmão, é mentiroso. Pois quem não ama a seu irmão, ao qual viu, não pode amar a Deus, a quem não viu.”
Lembrando que amor não é um sentimento romântico e não é sinônimo de gostar. Portanto posso amar gostando e amar sem gostar. Amar tem a ver com uma decisão, com a obediência e a atitude de praticar o bem segundo a justiça de Deus na vida do próximo.
Quem é o próximo?
Jesus respondeu essa pergunta contando a ilustração do bom samaritano:
Um homem descia de Jerusalém quando caiu na mão de assaltantes e foi roubado, espancado e ficou quase morto no chão. Dois homens (com cargos de sacerdote e levita) passaram pela vítima sem prestar socorro, mas o terceiro, um samaritano, cuidou dele, levou-o para um local próprio para ser auxiliado e pagou todas as despesas. Esse homem benevolente ficou conhecido como o “bom samaritano”.
O próximo no caso foi o homem mais distinto, estranho e indesejável aos sentidos pois os judeus detestavam os samaritanos.
Jesus disse também:
“Se vocês amam somente aqueles que os amam, que recompensa terão? Até os pecadores amam as pessoas que as amam. E, se vocês fazem o bem somente para aqueles que lhes fazem o bem, que recompensa terão? Até os pecadores fazem isso.”
O próximo, muitas vezes, será a pessoa que não temos afinidade ou apreciação. Podem ser pessoas de outra cultura, aparência, de aspectos estranhos, de costumes que não se parecem com os nossos. São pessoas que podem ser muito diferentes de nós.
Mas são filhos de Deus a quem ele também quer bem, apesar do nosso preconceito, da nossa distância, da nossa indiferença e da nossa aversão.
Deus também é pai das pessoas que você não gosta. Eles são filhos de Deus, ou ovelhas de Deus, mesmo que o seu desejo possa ser igual ao de Tiago e João quando manifestaram a vontade de orar pedindo que caísse fogo do céu para os consumir. Jesus respondeu a eles: Vocês não sabem de qual espírito são.
Não precisamos incluir no nosso convívio diário e no nosso círculo as pessoas que não temos afinidade ou apreciação, mas podemos aprender a criar pontes de receptividade, de solidariedade, de generosidade e de benevolência.
Ao invés do ódio direcionado, o acolhimento. Ao invés da perseguição a segmentos humanos, a tolerância. Ao invés do desprezo, a caridade e a aceitação. Dessa forma estaremos amando Jesus no próximo e manifestando o amor de Jesus no mundo.
É por isso que eu estou sempre tentando olhar as pessoas com bons olhos e esperar o melhor delas. Isso tem a ver também com entender as razões dos outros. As pessoas são diferentes. As vezes alguém pode ter cometido uma atitude que você não entendeu porquê ela teve uma experiência diferente na vida.
Então eu procuro criar pontes, eu procuro ser tolerante, eu procuro entender as diferenças porquê eu acredito nas pessoas. Tudo tem a ver com vidas humanas em busca de seus caminhos.
Essa é a razão que me faz escrever cada uma das palavras que compõem os meus textos.
É a voz de Jesus ecoando o tempo todo pra mim:
“Anderson, tu me amas?”
“Então cuida das minhas ovelhas. Diga pra elas que eu as amo. Forneça direção para os que estão precisando.”
Por isso eu procuro ser uma reserva de auxílio em meio às necessidades humanas que eu tenho a oportunidade de alcançar. Tem a ver com servir sem esperar nada em troca. Talvez as pessoas mais beneficiadas não vão ter como me retribuir. Porquê o amor verdadeiro não é praticado como barganha e não estabelece domínio sobre o outro, mas fornece alívio em meio aos pedidos de socorro.
No livro de Tiago está escrito:
“A pura e verdadeira religião diante de Deus, nosso Pai, é esta: cuidar dos órfãos e das viúvas nas suas dificuldades e afastar-se da corrupção do mundo.”
Ou seja, a verdadeira religião não têm a ver com frequência ao templo. Também não se define pelos cargos de sacerdote, pastor, presbítero, bispo, mesmo que o indivíduo esteja a frente de milhões de pessoas ou seja criador de um ministério que carrega o nome de Jesus, tendo grande influência ou representatividade política, sendo admirado por uma grande quantidade de gente e respeitado como um grande líder do cristianismo.
No dia do juízo todos serão julgados pelos critérios de Cristo e não pelas impressões de poder humano.
Jesus está perguntando pra você a mesma coisa que ele perguntou a Pedro: Tu o amas? Então ame o teu próximo.
Quais são as tuas capacidades e os teus alcances? Quais necessidades humanas estão agora diante do teu caminho?
“Aquele que der até mesmo um copo de água fresca a um destes pequeninos, na qualidade de discípulo, em verdade vos digo que de modo algum perderá a sua recompensa.”
Você procurará manter o coração aquecido ou negará ajuda quando Jesus aparecer pra você na figura de um desprezível e pequenino?
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