O que é a modernidade líquida e como viver nela?

Modernidade líquida é um termo usado pra nomear a ausência de solidez de um tempo (que é este) onde quase nada mais funciona da forma como um dia já foi.

Não há um “chão” firme pra se pisar, as pessoas vivem sem ter certeza de nada, os ciclos mudam muito rapidamente, não se pode confiar em quase ninguém e já não há garantias de durabilidade e consistência das coisas. Qualquer um pode sentir os efeitos disso.

3 pontos de destaque na modernidade líquida:

  • O esfriamento do amor generalizado
  • A inviabilidade dos novos relacionamentos
  • A falência do “cristianismo” sem Cristo

Estamos chegando em um período escatológico onde os valores da base da vida humana estão derretendo completamente. Essa é a era da confusão e da falta de sentido. Tudo está se dissolvendo em uma velocidade muito grande e as pessoas estão mergulhando no desespero e na angústia de existir porquê para muitos tá difícil dar um passo sem afundar. Os chãos estão se liquefazendo.

Como Pedro andou sobre as águas olhando firmemente para Jesus assim também deverá fazer todo aquele que deseja pisar com segurança nesse chão escatológico, nesse mar sombrio de apostasia, para viver bem, com qualidade, com sanidade mental, com ânimo e com alegria, tendo a vida edificada sobre a “rocha” eterna.

Nesse tempo isso significa viver sobre a dependência total de Jesus, sob a prontidão em obedecer sua direção, mantendo os olhos firmes nele, como uma ovelha que está atenta à voz do seu supremo pastor.

Quanto mais o tempo passa e mais o fim se aproxima mais a dificuldade de viver se intensifica e mais o discipulado verdadeiro é posto à prova.

Nesse tempo de provação cada vez mais só conseguirá atravessar intacto e triunfante em seu caminho quem mantém a sua luz própria.

A parábola bíblica das 10 virgens que carregavam lamparinas conta a história de dois grupos de pessoas que viviam suas vidas de formas diferentes enquanto se aproximava o tempo do fim. O povo de Deus é simbolizado na bíblia como uma “noiva” ou “virgem” que aguarda o retorno do esposo, que é Cristo. E a lamparina ou candeia representa a sua luz.

Dentre elas havia um grupo que foi prudente na sua busca para ter luz própria e outro grupo que negligenciou essa tarefa. O fato é que manter essa chama acesa tem um preço que nem todos querem pagar. O grupo imprudente pensou que poderia viver com o combustível dos outros mas quando perceberam que não seria suficiente pra iluminar suas candeias já era tarde demais: eles estavam sem luz na volta do “esposo”.

Quem sabe eles não se preocuparam tanto com a manutenção da sua luz porquê confiaram demais na luz de quem sempre foram iluminados e sempre lhes pareceu suficiente: A luz dos pais, a luz dos avôs, a luz do “cristianismo”, a luz de suas “igrejas”, a luz das tradições, a luz da média ponderada, até que uma virada acontece repentinamente e os pega de surpresa.

Uma geração passou num piscar de olhos e o mundo mudou demais. A terra se encheu de escuridão e de repente tá todo mundo no escuro. O número de doenças mentais e depressões cresce exponencialmente. Suicídio pra todo lado, para muitos há falta de sentido para viver e desespero absoluto, além de outras angústias indescritíveis e desorientação. Muitos especulam mas poucos sabem lidar com o que tá acontecendo.

O livro do Apocalipse diz que aqueles que guardaram o testemunho de Jesus e suportaram o sofrimento com paciência serão poupados da tribulação que virá sobre todo o mundo para por a prova os que habitam sobre a Terra. Independente se o arrebatamento do povo de Deus acontecer antes da grande tribulação, durante ou depois dela, uma coisa é certa: a bíblia recomenda estarmos preparados. 

O fato é que o preparo para lidar com essa pressão extrema vem do aprendizado, do treinamento e do exercício espiritual.

Então como obter esse combustível, ou o óleo, ou o azeite para manter sua candeia acesa e ter clareza para andar nos momentos de dificuldade que vão se intensificar ainda mais e atingir toda a Terra?

O mais esperado que uma pessoa sincera poderia fazer é participar de alguma religião cristã. Fazer parte de alguma “igreja” do cristianismo, conhecer algumas pessoas legais, cumprir alguns rituais, ouvir sermões, fazer algumas orações e se sentir protegido, acolhido e bem direcionado.

Pronto! Faça isso e venha me dizer se a sua vida tá resolvida. Então eu te direi porquê a religião têm te deixado mais confuso e sem respostas do que você era antes de participar dela.

O fato é que com a falência das “instituições cristãs” ou do “cristianismo”, o que antes tinha pouca qualidade, apesar de haver sinceridade, agora tão pouco pode te preparar para viver o Evangelho na realidade nua e crua da existência humana, ainda mais na modernidade líquida.

A verdade é que a arcaica estrutura religiosa do cristianismo com todas as suas derivações nunca foi a representação íntegra da fé cristã original pois o Cristo nunca instituiu nenhuma religião. Ele apenas ordenou que espalhassem uma filosofia de vida, que posteriormente sofreu uma tentativa de dogmatização por um imperador romano chamado Constantino, no 4o século, que deu poder à igreja por causa de interesses próprios e a corrompeu, levando ela a perder a qualidade das virtudes e o propósito original.

A reforma protestante melhorou muitos pontos escusos e abusivos da era medieval que eram praticados pela igreja católica, obrigando a instituição a também ter que melhorar para não perder fiéis, o que foi bom para o mundo. Porém ambas as vertentes vieram da mesma realidade: Elas nunca deixaram de ter o DNA de Constantino e da perversificação da fé cristã, que foi misturada com propósitos iníquos, apesar dos homens e mulheres santos de Deus que estiveram dentro delas e foram importantíssimos na história de fé e do mundo.

O que muita gente não consegue entender é que a verdadeira igreja de Jesus não se limita aos muros dessas instituições pois a base da fé não é pautada no nível de informação que alguém pôde ter sobre a teologia, a história da redenção e o nome “Jesus”.

O povo de Deus sempre foi composto por pessoas de dentro e de fora do sistema religioso, segundo o sacerdócio da ordem de Melquesedeque, instituído por Cristo, sacerdócio este que é global, que abrange os gentis e que existia antes da religião(judaica-cristã).

Jesus disse que no dia do juízo muitas pessoas serão surpreendidas quando forem recebidas no céu sem nunca terem tido qualquer informação sobre ele. Mas por terem vivido segundo a consciência própria com o Espírito daquilo que o Evangelho é por essência eles se tornaram filhos mesmo sem saber que tinham um Pai nos céus.

Ele falou que muitas prostitutas entrarão adiante no reino de Deus enquanto muitos religiosos ficarão para trás. Muitos virão do oriente e ocidente(indígenas, hindus, budistas, zoroastristas) para serem abraçados pela glória eterna enquanto muitos mestres da bíblia sem amor ficarão de fora do reino. Não é quem diz “Senhor, Senhor” mas sim quem procura fazer a vontade do Pai celestial, apesar da limitação intelectual, da condição humana, da origem cultural, da aparência exterior e da realidade catastrófica de vida.

Eu escrevo estas coisas pra que você entenda que muito provavelmente a sua religião não irá te preparar o suficiente pra viver na modernidade líquida. Vc corre o risco de pertencer à religião, ouvir todo domingo a citação do nome “Jesus” e ainda assim conhecer muito pouco ou quase nada sobre o Evangelho e sobre como vive-lo nessa geração. Você pode viver uma vida inteira de dedicação sacra-ritualística e ainda assim ser uma pessoa imatura espiritualmente.

Você pode até conhecer o sermão da montanha e alguns salmos, mas seguindo o passo a passo da cartilha da religião vc poderá ficar cheio de arrogância supremacista e cegueira espiritual, passando a dar extrema importância à aquilo que Jesus nunca deu e negligenciar as coisas que são essenciais, porquê apesar do Evangelho ser citado dentro dos templos a ênfase sugerida pelas autoridades de lá e pelas imposições dogmáticas te leva a ser arrastado para uma direção oposta, o que pode atrapalhar a sua vida espiritual, te fazer errar ou te adoecer.

A religião te faz ter uma falsa sensação de estar cumprindo um papel relevante e nobre por frequentar as reuniões da congregação nos finais de semana e pela presunção de ser “salvo” por pertencer a um grupo seleto que se abstém de alguns prazeres ou que cumpre alguns dogmas.

Grande parte do cristianismo protestante do Brasil tem sua origem nos Estados Unidos. É de lá que surge quase todas as doutrinas estranhas, o fanatismo infrutífero, as falsas profecias e as aberrações que são importadas pelos crentes brasileiros, apesar de algumas instituições pioneiras tradicionais do Brasil terem vindo da Europa.

Mas a Europa por sua vez já vive em um período pós cristão. Lá eles não querem mais saber disso por terem vivido tantos traumas e por constatarem que o cristianismo não funcionou por lá. E nem poderia funcionar em nenhuma outra parte do mundo, pois tudo que conhecemos por cristianismo ainda está muito distante do verdadeiro Evangelho e de como a fé genuína deveria ter sido espalhada pelo mundo, segundo a proposta de Jesus.

O que havia até certo tempo atrás dentro dos templos era um povo, que, mesmo ignorante em suas interpretações da bíblia, ainda possuía sinceridade e essa sinceridade em amor tinha relevância para fornecer suporte e acolhimento para as pessoas que participassem da comunidade. Mas até isso vem dando lugar à apostasia generalizada, fazendo com que restem poucos remanescentes dentro da religião que ainda guardam a pureza da fé.

Eu não estou dizendo que você deve abandonar a sua religião ou desistir de frequentar esporadicamente a sua congregação da forma como eu já estou vivendo há mais de 8 anos.

Em um mundo onde quase nada é ideal e onde existem poucas ou quase nenhuma opção você deve aprender a tomar as suas decisões por conta própria de acordo com a sua realidade de vida. Você deve avaliar as vantagens e desvantagens e saber qual decisão te favorece mais. Talvez a direção de Deus pra sua vida seja continuar frequentando e tendo comunhão com pessoas que são importantes pra você lá dentro. Eu mesmo vez ou outra vou à algum lugar desses tão somente por causa das pessoas mesmo.

Mas a ideia principal que eu quero transmitir é que, independente da sua decisão, pra caminhar sobre as águas você precisa fazer como Pedro e manter os olhos firmes em Jesus, que é o autor e consumador da fé. Você não foi chamado pra ser um macaquinho adestrado de circo, que submete todas as suas decisões pessoais a um homem que diz ser a sua autoridade espiritual, mas você tem livre acesso ao Pai das luzes, o qual poderá te guiar por toda a vida por um caminho só seu.

Renunciar, tomar a sua cruz e negar a si mesmo não significa abdicar dos bons prazeres, da liberdade e da alegria de viver as coisas boas. Não tem a ver com comida, bebida, lugares, festas, músicas, restrições, proibições. Tem muito mais a ver com a consciência, com a morte do egoísmo, da indiferença, dos impulsos violentos, dos ódios, da mentira, do engano, da predação, do abuso e do olhar perverso. Essas são as pulsões carnais da natureza humana que precisam ser renunciadas. É disso que se trata o “mundo” que a bíblia condena.

O chamado de Jesus para desenvolver a consciência no Evangelho convida cada pessoa a amadurecer para saber o que é saudável e conveniente para a sua própria vida. O que é bom pra uma pessoa pode ser terrível para outra.

O resto é apenas imposição dogmática que vem da máquina de controle da religião e que prende as pessoas pelo medo até que todos se tornem um monte de soldadinhos de chumbo, todos iguais, doutrinados em série, incapazes de pensar por si só, de discernir e de tomar o controle da própria vida.

Você pensa que eu não fiquei apavorado quando tive que seguir a direção de Deus e me desligar do ambiente religioso? Imagina quantas coisas passaram pela minha cabeça: Sensação de estar cometendo uma blasfêmia, abandonando a fé, perdendo a salvação, de ser excluído pra sempre.

Não foi fácil tomar essa decisão e atravessar esse vácuo. Mas só então quando eu obedeci e aguentei toda a pressão que tentava me esmagar, enfim eu pude desfrutar da qualidade que Deus tinha reservado pra mim, me fazendo andar por um caminho que era só meu, com liberdade, com provisão e com  Deus operando poderosamente como nunca em minha vida, abrindo caminhos onde não existiam, fazendo eu atravessar todas as dificuldades, a conhecer a Deus mais profundamente junto com sua fonte de amor inesgotável que é um manancial.

Foram 8 anos vivendo dentro da gaiola que eles chamam de igreja e agora já são mais 8 anos voando em liberdade. Antes eu só saía da gaiola pra entrar em outra gaiola porquê eu era ensinado que ali era o lugar onde eu deveria permanecer. Mas eu não sabia que Deus abençoava as pessoas apesar da gaiola e não por causa dela. A verdade é que Deus continua sendo Deus para os seus filhos apesar do confinamento, apesar dos falsos ensinos, apesar do cristianismo e apesar da confusão que vive o seu povo, que perece por falta de conhecimento.

Pra caminhar triunfante na modernidade líquida você precisa ser uma pequena luz no meio da escuridão, um atalaia da verdade em um mundo de mentiras, um portador da fé simples que preserva o amor de Deus no meio de uma geração de pessoas indiferentes, egoístas, desanimadas e sem esperança.

Se você tem o dom de pregar então ensine o Evangelho simples para as pessoas que queiram ouvir, fora do templo ou dentro do templo, até você receber o rótulo de herege e depois ser expulso ou convidado a se retirar. Se não te expulsarem então continue por lá. Se você não prega então apenas viva conforme o Espírito de amor e justiça do Evangelho de Jesus e as pessoas ficarão interessadas em conhecer a tua fé por causa do teu procedimento. Não seja chato, não seja um prosélito de nada. Apenas viva o Evangelho porquê a melhor forma de anunciá-lo não é falando, mas sim vivendo, praticando e encarnando.

Nem Jesus deve aguentar mais essa gente falando o tempo todo o nome dele!

No livro do profeta Malaquias Deus diz: “Ah se houvesse uma pessoa entre vós que fechasse as portas do templo.. Não tenho em vós o menor prazer.”

De nada vai adiantar a religião se o máximo que ela produzir for uma porção de gente fanatizada, supremacista, arrogante, dogmático-legalista, de coração duro, que não compreende a mensagem, que bota os outros no inferno, que os piora e torna a vida muito ruim.

  1. Alguém pode dizer: Mas pensar assim não é ser radical demais? 
  2. Ou então: Mas o apóstolo Paulo não diz em 1 Coríntios pra não abandonar a congregação como é costume de alguns?

Primeiro ponto: Se você ler os Evangelhos você encontrará em Jesus toda radicalidade contra o radicalismo fanático e infrutífero da religião, contra aqueles que falsificam a mensagem simples de amor e contra os religiosos que dizem conhecer a Deus mas que usam sua posição para oprimir o povo. Isso foi o que Jesus mais denunciou e bateu de frente nos Evangelhos. E em mim não há nenhuma disposição pra ficar fazendo média com meias verdades. Ou é tudo ou nada. Eu não tenho paciência pra ficar brincando de não ser nenhuma coisa e nem outra. Ou a minha entrega a Jesus é chocante, é de corpo e alma e é radical, ou então nem vale a pena querer viver o que Ele ensina. Portanto a radicalidade tem um objetivo final e eu apenas sou assim por causa da minha objetividade, sendo que o radicalismo é uma adesão irracional que não traz solução nenhuma pra nada e leva as pessoas a adoecerem. Portanto é preciso ter radicalidade sem ser radicalista.

Segundo ponto: Novamente essa é a confusão das pessoas que acreditam que a bíblia é a palavra de Deus de capa a capa, sem usar Jesus como a chave interpretativa para ler as escrituras. Quando Paulo falou sobre não abandonar a congregação devemos levar em consideração a realidade da sua época e do seu público alvo, que era o povo de Corinto. A maioria era analfabeta, não sabiam ler, não tinham ainda o novo testamento, não tinham rádio, televisão, telefone e internet. Portanto a mídia falada e a reunião presencial era a única forma de terem acesso ao ensino do Evangelho e de serem protegidos das falsas doutrinas que Paulo combatia. Se reunir para eles era quase questão de sobrevivência espiritual em um mundo de bárbaros.

Se Jesus é o autor e consumador da minha fé e é a palavra viva de Deus então eu não devo basear a determinação final para a minha vida em tudo que dizem Paulo, Moisés, os profetas, os teólogos, a teologia sistemática e os dogmas da “igreja”. 

Se Jesus é a minha chave interpretativa para compreender as escrituras então eu devo aplicar a sua palavra em minha própria geração e no meu contexto de vida.

Portanto congregar é bom quando faz bem e é ruim quando não faz bem. Se você conseguiu encontrar uma congregação que te faz bem então permaneça lá, ruim seria deixa-la. Mas se você congrega somente pra não perder a salvação aí você já tá completamente perdido nas suas convicções.

Eu tenho muito mais pra falar mas por enquanto fico por aqui, o texto já tá grande demais.

Eu falei do esfriamento do amor e da busca por luz própria, e também da da falência do “cristianismo” sem Cristo. Faltou ainda falar da inviabilidade dos novos relacionamentos e eu vou fazer isso em uma parte 2.

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