A pessoa boazinha

A pessoa boazinha vive frustrada porquê as suas ações nunca levam ela pra frente, pelo contrário, ela sempre é explorada e passada pra trás. Essa é a armadilha que muita gente cai enquanto pensa que estão sendo bons.

Pra mim ser bom não envolve atender os caprichos de ninguém ou fazer as vontades dos outros pra poder ser aceito. O que eu faço de melhor acaba fluindo de forma espontânea e o que eu não faço geralmente acaba sendo por uma razão. Eu não ando preocupado em agradar e nem desagradar ninguém.

Pra mim não há problema em agradar as pessoas, pelo contrário. Isso eu procuro fazer quando eu posso. Seria ótimo se uma pessoa fosse capaz de agradar a todo mundo, mas é terrível alguém desperdiçar a própria vida tentando agradar pessoas que não pediram por isso. O problema não está em agradar e sim no vício de agradar, que tá ligado a uma espécie de barganha e de pulsão da mente adoecida. O bonzinho quer usar seus favores como uma moeda de troca para obter aceitação. Ele é um mendigo de aceitação e sua “bondade” é só uma forma de compra-la. Resumindo, o bonzinho é um ser humano adoecido que promove a injustiça pois suas ações não resultam naquilo que é justo.

Eu não me arrependo de nenhuma coisa boa que eu fiz ou faço, mesmo se houver ingratidão da parte que recebe. É bom encontrar pessoas que tenham gratidão mas é melhor ainda ser livre da dependência das gratidões, até porquê a caridade mais perfeita produz o seu fruto quando não esperamos nada em troca de quem foi o alvo da generosidade que nasceu espontânea.

Eu procuro ser grato e aprecio a gratidão mas eu não suporto as co-relações de barganha que obrigue qualquer um a estar preso a mim e as que me façam escravo de alguém por causa da necessidade de ter que retribuí-lo.

O Evangelho de Jesus não ensina ninguém a oprimir e nem a ser explorado. Dar a outra face é uma medida que deve ser tomada em relação ao malfeitor/inimigo/adversário e não às pessoas que você escolhe pra entrar em sua vida, a não ser que você queira viver em um cárcere privado ou ser sugado até o talo.

A mansidão é um atributo designado para o indivíduo agressivo, sem domínio próprio, vingativo mas pro bonzinho a mansidão é um veneno, pois o que ele precisa é de justamente ações de pró-atividade e coragem que o tire de sua situação de passividade adoecida.

Ser bonzinho não é ser bom. Quem não respeita os próprios limites não está sendo honesto e transparente consigo e com os outros. Além de tudo o bonzinho geralmente tem falhas graves de caráter. Ele não cumpre o requerimento de Deus que é dizer “sim” quando pra ele é “sim” e “não” quando é “não” conforme Jesus ensinou.

O homem justo procura a justiça e isso requer coragem, enquanto o bonzinho não faz o que é justo por causa de sua própria covardia e do medo. A covardia sempre produzirá frutos podres e permitirá que o mal se instale, ganhe espaço e se fortaleça.

Deus não dá espírito de covardia mas sim de coragem, de justiça e de amor, e o amor não é um sentimento “romântico” e doce, mas é uma atitude objetiva de coragem pró vida e pró justiça. Tem a ver com o posicionamento correto. O homem justo não tem a mesma tendência de ser dominado, manipulado e controlado como o bonzinho. Sua posição até possibilitaria o contrário, mas ele escolhe não o fazer. Por causa da misericórdia, compaixão e do temor de Deus, o justo freia qualquer ímpeto, mesmo tendo o poder, de mover os palitos e pesar, pra não esmagar quem errou com ele ou o traiu, expondo-o à humilhação.

Jesus disse: Se o teu inimigo tem sede dá a ele água pra beber. Com Cristo Jesus eu aprendo a viver em amor e é por isso que o amor de Cristo é o meu parâmetro pra se relacionar.

Muitos acharão as atitudes esteticamente bonitas mas no fundo as desprezarão pensando que é idiotice ser:

  • pacificador
  • abençoador
  • perdoador
  • propositor de vida..

Dirão pra si mesmo que isso é coisa de gente fraca. Mas eu não me envergonho do Evangelho de Cristo porquê é através do poder de Deus que eu me fortaleço.

Nessa força eu supero tudo. Como as águas de um rio eu sigo em frente atravessando os obstáculos e fazendo meu curso, enquanto permaneço inteiro e experimento paz. Isso é tudo que eu preciso.

O bonzinho não tem paz, não tem progresso, não tem o favor de Deus em plenitude, não tem honra e não tem verdade em si mesmo.

No bonzinho não há força e nem vigor porquê aos poucos ele foi se rendendo à hipocrisia, à dissimulação e ao fingimento. Ele se anula pra satisfazer os outros e não faz aquilo que realmente gostaria de fazer. Por isso o indivíduo fica cheio de ressentimento e amargura.

Ele pode até pensar que confia em Deus enquanto a sua vida é um reflexo de que ele teme mais o poder dos homens do que o poder de Deus pois se ele realmente confiasse no poder de Deus a sua atitude seria diferente.

Eu não estou dizendo que ele não tem Deus, mas lhe falta o conhecimento de Deus e lhe falta a fé com entendimento. Talvez por causa de diversas fraquezas ele tenha se tornado um dependente emocional por isso a sua carência elevada o faz sempre estar em subserviência a outras pessoas, bajulando, dando importâncias elevadas a homens, porém a única cura para o covarde é enfrentar os seus maiores medos, e isso pode ser assustador e muito desconfortável.

Por causa do amor de Cristo eu procuro ser misericordioso e tardio em me irar. Pra mim isso se traduz em um princípio básico de convivência. Assim como eu também preciso do perdão das pessoas eu tenho o dever de perdoar as falhas que elas cometem contra mim e ser paciente pra entender que todos nós estamos sujeitos a errar diversas vezes.

No entanto você precisa saber separar o que são falhas humanas e o que são perversidades deliberadas. O mal só precisa de atenção, e o bonzinho é o primeiro a dar essa atenção.

Lembre-se que amar não é gostar. Temos o dever de amar mas não precisamos gostar e conviver com quem não quer ser “gostável” de jeito nenhum.

Quem sofre por ser bonzinho ainda não atingiu a gravidade de um homem justo e nem é capaz de praticar o bem que nasce e cresce como fruto de justiça.

O bonzinho não pode ainda nem pensar em mansidão e misericórdia porquê ele já tá se afundando nas suas próprias percepções distorcidas sobre o que é justiça e na sua presunção de bondade.

Quanto mais tempo eu passo andando com Cristo mais eu aprendo a discernir aquilo que é essencial e aquilo que tem menor importância na vida. Isso me dá força espiritual, assertividade e confiança.

Eu entendo que quanto mais uma pessoa se torna obstinada contra a verdade do Evangelho, e assim segue por um caminho estranho de teimosia deliberada, mais ela vai enfraquecendo o vigor de sua personalidade, até que ela corre o risco de um dia trincar de uma só vez.

O indivíduo que não está disposto a crescer em sabedoria e dilatar a sua consciência com a expansão da mensagem do reino de Deus, ele nunca vai deixar de ser aquela pessoa simplista, de interpretação binária, irreflexiva, sem qualquer maior sofisticação cognitiva que seria apta para pensar, discernir, pesar, dosar e entender.

O chamado para participar e se desenvolver no reino de Deus é como o processo de crescimento da mostardeira, que começa pequena e simples como uma semente de mostarda, até que vai crescendo com suas diversas ramificações até se tornar uma árvore enorme.

A mesma coisa acontece com a consciência de quem aceita o chamado simples dessa subversão em amor que Cristo propõe, até criar suas raizes e se fortalecer desenvolvendo o seu olhar interpretativo que vai ganhando complexidade e ramificações, mas que está baseado em uma premissa simples que qualquer um poderia se iniciar através de um ato de fé e uma entrega verdadeira.

Plantado às margens do rio de Deus e regado por seu amor infalível, assim você pode crescer dia-a-dia pra começar a dar os frutos de justiça que o verdadeiro amor produz. Dessa forma você pode ganhar a chance de ser livre para existir sem fingir, se expressar sem o medo da reação das pessoas, ser transparente ao invés de criar mil invenções a respeito de si mesmo pra tentar ser aceito e ser justo sem ser bonzinho e ressentido.

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