Desde os tempos de Jesus o seu maior embate foi justamente contra os chamados mestres da lei, que eram os líderes religiosos de sua época, sobre os quais Jesus nos deu inúmeras advertências. Jesus disse que eles colocavam fardos pesados sobre as pessoas.
Você pode identificar eles por causa da fixação nas suas tradições morais, que muitas vezes não passam de costumes opressores e que nada têm a ver com os mandamentos de Deus e com a sua consciência.
O Evangelho não trata sobre a moral e sim sobre a ética. Toda moral é relativa ao tempo e à cultura de determinado povo. Tem a ver com o comportamento da média ponderada que é aceitável por uma maioria de pessoas dentro de algum segmento humano. Mas a ética do Evangelho tem a ver somente com os fundamentos essenciais para a manutenção, o equilíbrio, o bem-estar e a saúde da vida.
Jesus mesmo diversas vezes quebrou as tradições religiosas e contrariou a moral para fazer se cumprir a ética, que é fundamentada no amor.
Já houve períodos nos quais para muitas igrejas assistir televisão era moralmente inaceitável. Hoje as mesmas igrejas que proibiam agora permitem. Apesar disso muitas pessoas em outra época foram “mandadas pro inferno” pelos pastores por causa de uma interpretação moral.
Se você ficar totalmente pelado dentro de um shopping durante algum tempo existem grandes chances de que você possa ser preso por atentado ao pudor. Eu não acredito que isso te leva pro inferno, mas no mínimo você pode ter que dar alguma satisfação para os agentes encarregados de proteger a lei civil da nossa constituição.
Porém em certas culturas indígenas isso é um costume comum que não provoca nenhum escândalo. Os índios vivem pelados e tá tudo bem pra eles. É da cultura.
Em determinadas igrejas mais fundamentalistas existem regras de usos e costumes que regulam e normatizam a adequação moral pela modelação do vestuário. Eles nivelam a régua da decência de acordo com os seus padrões, algumas vezes bregas e exagerados, o que leva as vidas humanas a viverem debaixo de uma inadequação social, um fardo pesadíssimo e um medo contínuo.
É por isso que a religião adoece tanto. As regras da religião são fundamentadas em interpretações morais. Isso significa que se você embarcar nessa, sua vida poderá ficar nas mãos de uma sistematização rígida, inflexível e sufocante.
Aí não pode mais escutar músicas que não tenham a temática religiosa, não pode frequentar lugares que são considerados “mundanos”, não pode mais ter as amizades antigas só porquê a pessoa não possui a mesma religião, e etc.
Talvez você diga que isso só acontece nas igrejas fundamentalistas mas não é bem assim. As igrejas evangélicas com a aparência de serem mais liberais carregam um perigo justamente porquê aparentam ser inofensivas. Isso confunde as pessoas.
Nessas igrejas quase não existem cobranças e regras sobre usos e costumes para o vestuário mas a exigência para certos padrões comportamentais podem ser igualmente ou até mesmo mais invasivos e perturbadores.
Se você transa com a sua namorada ou se você mora junto com a sua mulher mas não tem o registro de casamento no cartório ou não recebeu a chancela da cerimônia de casamento na igreja realizada pelo pastor então vocês serão enquadrados na prática da fornicação. Dependendo do caso podem até ser disciplinados ou expulsos da comunidade.
Mas o que realmente é a fornicação?
A palavra fornicação aparece na bíblia e ela tem origem na palavra “Fornices”, que era um arco romano sob o qual as prostitutas se exibiam. Ali havia uma praça onde se cometiam orgias em público.
A bíblia diz que os fornicadores não herdarão o reino dos céus e a religião usa esta passagem bíblica para categorizar a vida íntima das pessoas através de uma perspectiva que vem de sua própria interpretação moral doentia.
Devemos levar em consideração que o antigo império romano possuía uma das culturas mais sexualmente depravadas da terra na antiguidade. Coisas impensáveis eram normalizadas.
Por exemplo, a imperatriz Messalina fazia competição com as prostitutas para ver quem conseguia transar com mais homens no período de 24 horas. O imperador Tibério usava a ilha de Capri para realizar festivais de orgia envolvendo até mesmo crianças recém-desmamadas, além de muitas outras coisas que eu não acho propício escrever aqui.
Daí vem o seu pastor munido da interpretação moral do costume para impor restrições e determinar como deve ser o seu relacionamento pessoal.
São os fiscais da transa.
Eles não deixam as pessoas transarem antes do casamento mas fazem com que um monte de pessoas se case apenas para poderem transar. Dessa forma condenam um monte de gente à infelicidade porquê eles acabam não se conhecendo o suficiente ou porquê eles acabam acreditando que a abstenção de sexo até o casamento é o fator determinante para obter a bênção de Deus sobre ele.
Eu não sou contra as pessoas que decidiram esperar por vontade própria. Eu acho que a espera pode ser até prudente por determinados períodos de tempo. Pra muitas pessoas isso faz parte do processo natural quando se está conhecendo alguém. Mas não pode ser uma imposição tirânica. Deve ser uma decisão conforme a maturidade e o bem estar dos envolvidos.
A benção de Deus não está vinculada aos registros formais do matrimônio, cerimônia e etc, mas sim sobre a proposição das pessoas que querem se unir. Ou seja: se tem a viabilidade mínima, o desejo genuíno, se tem respeito, unidade, se há cooperação mútua, se praticam os valores de Deus.
As formalidades externas servem apenas para finalidades jurídicas e para tornar público para os outros de fora.
Existem pessoas que estão verdadeiramente casadas mesmo sem as formalizações da tradição e existem aquelas que são casadas no papel mas aos olhos de Deus eles não são um casal pois não vivem o propósito de um.
Na bíblia é dito que Isaque tomou Rebeca como esposa, levou ela pra dentro da tenda e a possuiu. Não existia cartório nessa época. A regulamentação da união era feita somente através de um acordo entre eles e suas famílias. Os casamentos judeus posteriores não tinham a interferência das sinagogas e nem mesmo a igreja primitiva funcionava assim. Eram acordos familiares.
Se a religião se posiciona como o órgão regulamentador do casamento então ela consegue controlar os seus membros porquê todo aquele que deseja casar terá que se submeter às suas determinações medievais.
Foi isso que a igreja católica fez quando surgiu a partir de Constantino no quarto século, além da venda de indulgências e muitos outros abusos empregados no objetivo de controlar.
A reforma protestante não eliminou isso, pelo contrário, a igreja protestante também quer ser a dona da sua vida conjugal pois isso dá poder aos seus líderes.
Eu não to falando absolutamente nada contra as cerimônias de casamento, as festas, as celebrações e todo o ritual tradicional que as pessoas gostam de fazer.
Jesus fez o seu primeiro milagre em uma festa de casamento, onde ele transformou água em vinho, o melhor vinho da noite, que serviu pra alegrar os convidados naquele momento de comemoração e celebração, o que era totalmente propício.
Porém outra obsessão com comportamento moral praticado pela igreja evangélica é a proibição da ingestão de bebidas alcoólicas.
Nos testemunhos de conversão dos recém convertidos você os ouvirá dizer: “Eu vivia praticando sexo e enchendo a cara, mas agora sou de Jesus”.
Estes são os sinais de conversão mais significativos para os crentes do “cristianismo”.
E eu não to nem dizendo que a bebida em excesso é algo que faz bem pra sua saúde. Eu mesmo não gosto e não faço muita questão.
Eu só to dizendo que se a religião estivesse preocupada com a saúde dos seus membros ela não ensinaria a proibição, mas sim o equilíbrio, o que não acontece porquê essa se trata de mais uma questão moral.
Eles dizem que é uma coisa que desagrada a Deus mas Jesus disse que não é o que entra pela boca que torna um homem impuro e sim o que sai dela, ou seja, as palavras e as ofensas. Até mesmo o apóstolo Paulo disse que o reino de Deus não se trata de restrições e proibições de comidas e bebidas, mas sim de justiça, paz e alegria do Espírito Santo.
Jesus bebia vinho e possivelmente cerveja, pois a cerveja romana, chamada de cevita, era a bebida mais comum do império.
Mas os fariseus, que se achavam moralmente superiores, o chamaram de beberrão e amigo de pecadores.
Quando Paulo escreveu para os efésios “não vos embriagueis com o vinho, em que há contenda” não era por causa do vinho mas sim por causa das contendas.
Tem muita gente que não sabe se controlar. Qual a lógica da pessoa fazer mal pra sua própria vida?
Essas pessoas não podem beber, mas não é por causa do álcool e sim por causa delas mesmas que não têm um domínio próprio, ou um organismo resistente, ou o controle das suas emoções e pode inclusive se colocar em situações de risco. É por isso que a ingestão de bebidas pode ser muito perigosa.
Eu mesmo não gosto de beber muito mas quando eu passo um pouco do limite eu sei que no meu caso o máximo que vai acontecer é eu ficar com sono ou passar um pouco mal. No outro dia uma ressaca, quem sabe. Mas eu só bebo em lugares onde eu sei que estou seguro.
A bebida já nem me embriaga quase nada, o álcool apenas me deixa mais lento e com sono. Quem dera todo mundo fosse assim, mas eu sei que a maioria das pessoas não é.
É por isso que eu não recomendo bebida alcoólica se isso te faz passar por embaraços, brigas, vexames, arrependimentos, desconfortos e mal estar. Além disso o melhor pra saúde é evitar mesmo as bebedeiras.
Uns porres de vez em quando, em ambiente propício, eu acredito que podem ser bons se isso for quebrar a vaidade moral doentia e proibitiva da religião, principalmente quando alguém teve a sua mente ludibriada pelas ameaças punitivas e o legalismo que acabou com a sua liberdade. No entanto quem tem a vida desregrada e é prejudicado pelos seus excessos precisa dos jejuns e das renúncias para buscar o seu ponto de equilíbrio.
A verdadeira embriaguez é um estado de espírito e não a reação do organismo perante à influência de alguma substância, de modo que a ética é o que nos leva a agir corretamente com o próximo e a moral é uma expectativa de exterioridade de comportamento.
A religião é altamente embriagadora porquê ela distorce os sentidos das pessoas permanentemente, de modo que seus adeptos podem acabar ficando altamente embriagados sem ao menos terem colocado uma gota de álcool na boca.
Todo mundo precisa dos seus momentos de futilidade, diversão, descontração. Mas a vida não pode se tornar apenas isso.
E eu que tomo uns porres, vez ou outra, pra extravasar e me alegrar quando eu acho propício, digo essas coisas, estando mais sóbrio do que nunca.
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