Nesse texto eu vou falar sobre as duas orações que eu mais fiz na minha vida mas antes pra contextualizar eu vou contar um pouco da minha história na fé, quando fui impactado pelo Evangelho de Jesus e aceitei o seu chamado, para então viver as melhores e as piores experiências da minha vida dentro dos templos da religião.
Eu tinha 18 anos quando aconteceu a virada. Foi o antes e o depois, foi a minha entrega e foi também o meu dia de Pentecostes, o derramamento do poder de Deus que me incendiou e que continua me incendiando até hoje. Dali em diante eu passei a sentir a presença plena do amor. Eu fui revirado por dentro, tocado pelo apelo da ministração. Enquanto eu fazia a minha oração entregando a minha vida a Deus naquela vigília, de madrugada, no púlpito do templo, eu fechava os olhos e via labaredas de fogo vindo na minha direção, descendo sobre mim. Era muito fogo. Chamas e labaredas de fogo vinham ao meu encontro, uma após a outra, sem parar.
Naquele tempo eu não conhecida quase nada da bíblia e nem de fenômenos como esse mas eu contei a visão que eu tinha tido pro amigo que tinha me convidado pra ir na igreja, então na mesma hora ele abriu a bíblia no livro de Atos dos Apóstolos, no dia de Pentecostes, quando os discípulos estavam reunidos para receberem poder, após a ressurreição de Jesus e sua ascensão ao céu:
“De repente veio do céu um som, como de um vento muito forte, e encheu toda a casa na qual estavam assentados. E viram o que parecia línguas de fogo, que se separaram e pousaram sobre cada um deles.”
O fogo que eu tinha visto eu creio que era o fogo do Espírito de Deus sendo derramado com poder para fazer uma limpeza dentro de mim e para me capacitar a viver aqui na Terra com o poder que vinha dos céus.
Eu tinha sido cheio e a partir daí estava transbordando do amor de Deus, embora as pessoas achassem que eu tinha enlouquecido. Naquele dia eu tinha ido visitar uma igreja e depois disso a única coisa que eu queria fazer da minha vida era anunciar pro mundo essa fé e convicção tão poderosa e transformadora.
Foi uma mudança radical, de um dia pro outro eu já era uma pessoa totalmente diferente. Eu tinha recebido um novo coração. Eu sentia a presença de Deus por todo lugar, em todo canto que eu olhava eu só enxergava a perfeição das obras e da criação de Deus. De repente eu já estava amando pessoas que eu nem conhecia, através de uma capacitação “alienígena”, através de um poder “extra-terrestre” porquê eu sabia que isso não vinha de nada do que eu já conhecia aqui na Terra até então.
Mas era também a resposta que eu precisava, era o espaço que faltava ser preenchido, era a passagem secreta de Nárnia. Afinal eu descobri porquê eu tinha nascido: Pra anunciar a poderosa palavra de Deus e levar esperança, cura, socorro e libertação aos oprimidos, desiludidos, feridos, perdidos, pra viver inteiramente ligado a Deus e cumprir o seu chamado de amor.
Ou seja, eu tinha sido convidado pra um culto chato e fiquei pra uma vigília onde o céu desceu, e de repente eu mal sabia que os próximos dias seriam os mais felizes que eu já vivi: Eu tinha encontrado a plenitude da perfeição do amor e o sentido de todas as coisas. O meu quarto agora era o meu santuário de oração, a sala do trono. O meu vício era passar horas e até mesmo dias inteiros na presença gloriosa de Deus.
Não foi pela dor, eu renunciei toda a minha vida porquê eu fui seduzido por um amor irresistível, alienígena, de outro mundo, que me revirou por dentro e de repente passou a ser o meu chão, a minha luz, a minha direção, a minha nuvem, o meu escudo. Eu havia encontrado algo tão valioso a ponto de fazer uma loucura tão grande que ninguém conseguia entender. Eu decidi largar tudo para seguir a Jesus por onde quer que ele fosse me levar. Então eu passei a viver os milagres do meu próprio livro de Atos dos apóstolos.
Mas apesar de estar cheio de muita graça eu era um recém convertido com quase nenhum conhecimento.
Eu queria apenas viver a minha espiritualidade, ter comunhão com Deus e anunciar suas maravilhas pra todas as pessoas que eu encontrasse no caminho, mas me disseram que eu teria que me tornar um frequentador permanente do templo porquê isso era um fator imprescindível para a minha vida espiritual e caminhada com Deus.
Essa foi a parte chata porquê naquele ambiente que eles chamavam de “casa de Deus” eu sentia um desconforto estranho que eu não sabia explicar em meio as rotinas litúrgicas e as convenções culturais internas. Tinha algo errado, a conta não fechava, mas eu não poderia alegar nada diante daqueles que eram as autoridades do templo e que já estavam a tantos anos exercendo a sua função. Aos poucos eu anulei a minha intuição por causa da pré-suposição de que o fato de ter pouco conhecimento me faria estar errado.
No fim das contas eu rodei por praticamente todos os ministérios em busca de um lugar pra chamar de lar, mas não foi bem isso que aconteceu.
Após a minha conversão eu passei a viver o céu e o inferno dentro da religião, os melhores e os piores dias da minha vida. Eram muitas coisas boas acontecendo e muitas coisas ruins ao mesmo tempo.
Eu vivia muito confuso porquê cada igreja tinha as suas próprias regras e as suas próprias crenças. Cada uma dizia ter a verdade que me levaria para o céu mas eu acabei imerso num limbo existencial de angústias e tormentos. Em busca da obediência a aquilo que os líderes ensinavam eu fui ficando cada vez mais isolado na minha vida social, apesar de estar sempre rodeado de colegas que faziam parte da vida ministerial na igreja. E essa mesma dinâmica eu pude constatar em praticamente todos os círculos evangélicos, desde os mais tradicionais, os que tinham a aparência de liberais e os mais fundamentalistas.
Portanto a solidão e a confusão eram duas coisas que mais me incomodavam e que mais me impulsionavam a buscar a Deus a fim de obter direção e respostas. Eu orava incessantemente.
Então as duas orações que eu mais acabei fazendo na minha vida foram:
- Que Deus não me deixasse ser enganado
- Que Deus me ensinasse como fazer amigos.
O fato é que eu queria apenas ter a minha dor resolvida e eu creio que Deus atendeu as minhas orações me ensinando sobre a natureza humana e também me capacitando com o discernimento e o conhecimento para me livrar de muitos enganos, ainda que esse processo tenha sido bastante doloroso.
Hoje eu entendo que Deus não nos chamou pra vivermos isolados e também não nos chamou pra vivermos debaixo das imposições legalista-comportamentais da religião. Deus nos criou para viver em liberdade e em amor.
O mundo é muito grande, bonito e interessante pra alguém ficar trancado pra sempre em uma redoma de concreto que chamam de casa de Deus. Jesus usou a ilustração do “sal da terra” porquê o sal só dá sabor quando ele se mistura no caldeirão. Sal que permanece dentro do saleiro vira pedra de sal e não presta pra nada.
Ou seja, Deus tem nos chamado para fazer amigos ao redor do planeta, por todos os lugares, onde quer que te recebam sob a insígnia da paz, onde quer que recebam essa mensagem de fraternidade, amor e justiça.
Era isso que Jesus fazia o tempo todo embora ele tivesse os seus amigos mais íntimos. Ele disse: Já não vos chamo servos, porquê o servo não sabe o que faz seu senhor; mas Eu vos tenho chamado amigos, pois tudo o que ouvi de meu Pai Eu compartilhei convosco.
Uma vez eu li um livro chamado chamado “Como fazer amigos e influenciar pessoas” e um dos pontos de destaque dele fala justamente sobre não julgar e sobre ter a empatia de olhar sempre com outros pontos de vista, porquê no fim das contas ninguém é dono da verdade e cada um tem a sua experiência diante da mesma situação.
Você pode andar por aí querendo ser o dono das razões e criando inimizades, ou você pode tentar entender as pessoas e ganhar amigos.
Você pode acabar se tornando uma pessoa amargurada, extremamente sensível, casquinha de ovo, que vive zangada, que vive armada, que se incomoda com qualquer coisa e que no fundo está morrendo de vontade de arrumar uma briga e entrar em uma confusão para então adquirir a repulsa dos outros que te olham de fora e para então conseguir obter as inimizades que você tanto deseja.
Ou então você pode expandir a sua consciência procurando ser tolerante e tardio em se aborrecer com coisas insignificantes para então ganhar a admiração das pessoas que passam pelo teu caminho e acabam tendo prazer em conviver contigo.
Jesus disse que bem-aventurados são os pacificadores porquê eles serão chamados filhos de Deus.
Conhecer o Evangelho de Jesus é uma excelente forma de aprender a fazer amigos porquê o discipulado de Cristo nos ensina como tratar outro ser humano.
Se não formos capazes de perdoar as pessoas que cometem erros é como se estivéssemos dizendo para Deus que nós mesmos não cometemos erros e que portanto não somos pecadores, então não precisamos de um salvador.
Pode ter certeza que essa arrogância não será bem interpretada diante de Deus e as suas orações não vão passar do teto.
Jesus ensinou sobre não julgar e também sobre a tolerância quando ele disse que não há limites para se perdoar e que o perdão deve ser vivido como um estilo de vida, pois estamos sujeitos ao erro o tempo todo.
Entretanto em Jesus não há nenhum traço de ingenuidade, burrice, masoquismo ou qualquer condição patológica que o faça ficar sequestrado por alguém sob o constrangimento da necessidade de ser amigo, mas ele sabe quem quer seu amigo de verdade e convida todos os seres humanos a tomarem a sua própria cruz e o seguirem.
É preciso saber diferenciar o erro da canalhice deliberada.
Jesus também não é enrolado por aqueles que fazem perguntas cretinas com a intenção de lhe envolver em uma armadilha. Por conhecer a natureza das pessoas ele sabe que não pode confiar nos homens. As respostas de Jesus em várias ocasiões são cheias de ironia e sarcasmo. Muitas vezes ele devolve a pergunta com outra pergunta para expor a cretinice ou a incoerência daqueles que tinham más intenções ou que fingiam ser seus amigos chamando-o de mestre.
Jesus não é apanhado por ninguém mas é ele mesmo quem se entrega até a cruz porquê foi pra isso que ele nasceu.
Ele nos ensina que a nossa palavra deve ser sim quando é sim e não quando é não, ou seja, devemos amar o próximo mas também devemos respeitar os nossos próprios limites, portanto devemos aprender a dizer não. Isso também tem relação com um princípio de transparência e sinceridade pois o que sai da nossa boca deve ser compatível com aquilo que estamos sentindo.
Ele também nos ensina que devemos ser inofensivos como as pombas mas também falou da prudência que precisamos ter, por causa do desequilíbrio e da tendência de sermos ludibriados pelos filhos das trevas, que são muito mais astutos que os filhos da luz.
Enquanto você for uma pessoa sem discernimento espiritual, que não conhece a natureza humana e que não prova os espíritos que estão por trás das intenções das pessoas dificilmente você vai conseguir estabelecer amizades saudáveis.
O apóstolo João disse que devemos provar se os espíritos são de Deus.
Deus nos chamou para andar na verdade e portanto é muito provável que iremos sofrer perseguições por causa de seu nome. A bíblia nos ensina que devemos suportar com paciência os sofrimentos que podem nos acometer quando fazemos o que é certo.
Entretanto Deus não nos chamou para ficarmos refém e sermos apanhados pela maquinação do perverso, canalha, malicioso, trapaceiro e enganador.
Se formos fiéis a Deus e guardarmos a sua palavra como uma expressão viva do nosso ser, por todo lugar que andarmos, ele nos livrará dos laços, das armadilhas e dos enganos. Ele colocará em nossa boca as palavras certas e então sem esforço você vencerá qualquer manifestação presunçosa que queira se levantar porquê Deus nos respalda e confunde aqueles que são os criadores da confusão.
Pode vir contra mim 450 profetas de Baal, autoridades do templo, do cristianismo sem Cristo, gente poderosa, ou qualquer forma de presunção que tente me envolver em um laço. Eu não tenho medo porquê maior é o poder de Deus e envergonhados ficarão todos aqueles que se levantam contra a sua verdade.
Nas casas judaicas da época de Jesus os cômodos tinham um buraco no alto da parede onde colocavam uma lamparina com a finalidade de iluminar todo o ambiente. Jesus usa essa ilustração para ensinar que da mesma forma a nossa luz deve estar em um lugar de evidência para que todos vejam. Ele diz que ninguém acende uma candeia e a coloca em um lugar onde fique escondida.
Não são as trevas que afugentam a luz mas é a luz que afugenta as trevas.
Em resumo Jesus está dizendo que não devemos ter vergonha de sermos da luz, pelo contrário devemos colocar em evidência as boas obras de Deus para que as pessoas vejam e glorifiquem o Pai que está nos céus, e então essa luz iluminará a escuridão onde quer que você chegue.
Ele ensina em uma parábola outro princípio de sabedoria dizendo pra não nos sentarmos nos primeiros lugares porquê corremos o risco de sermos envergonhados, pois se chegar outro convidado mais importante teremos que sair dali para sentar nos últimos lugares. Mas ao invés disso devemos sentar nos últimos lugares para que sejamos convidados a ir pra um lugar de honra.
Eu entendo que não é sábio ficarmos nos convidando para entrar onde não fomos chamados mas é melhor esperarmos ser convidados e então teremos a perspicácia de entender onde somos bem-vindos. Ou seja, em Jesus eu aprendo as dinâmicas de saber me encaixar da forma certa e também aprendo que eu não devo pedir licença pra existir, pelo contrário, devo manifestar todas as boas obras com coragem e espontaneidade para que os outros vejam a luz e sejam iluminados.
O Evangelho não deve ser vivido sob disfarce, mas devemos encarnar as palavras de Jesus e vivê-la sob todos os âmbitos da vida, em todos os lugares.
Hoje eu coleciono amigos por onde eu passo pois eu procuro viver com esse espírito de amor, justiça, fraternidade, socorro, respeito e amizade, tolerância e prudência.
Não é atendendo sempre as expectativas que as pessoas tem sobre mim, mas é amando-as, considerando-as, se colocando no lugar delas para trata-las da forma que eu também gostaria de ser tratado. Portanto eu não procuro fazer tudo que as pessoas esperam de mim, mas eu procuro dar o que as levará até aquilo que eu sei que no fundo elas estão procurando.
Resumindo: Pra fazer amigos segundo o Espírito do Evangelho e viver livre das armadilhas do engano devemos aprender os princípios da tolerância, conhecer a natureza humana, ser fiel a Deus, discernir os espíritos, saber dizer não, saber se encaixar da forma certa e ter coragem para manifestar e colocar em evidência as boas obras de Deus, praticando o Evangelho de Jesus na vida do próximo e criando laços por meio do amor, da verdade e da justiça.
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